Poeta Vagabundo

10/25/2006

Autocarro da Insanidade

Vou de viagem no autocarro da Insanidade rumo a qualquer lugar que já nao me lembro bem onde fica.Levo a cabeça encostada ao vidro e o chapéu no colo.
O autocarro pára e eu saio bem devagar.Nao reconheço o lugar...é um mundo azul e a tua cara está em toda a parte.A cara das pessoas que deambulam pelas ruas..és...és tu! Ponho as mãos nos bolsos - faz frio aqui - e pergunto ao motorista que lugar é aquele...Ele, que usava um chapéu idêntico ao meu e cuja cara eu nao conseguia ver na escuridão, levanta a cabeça...reconheço-lhe a face...sou eu! "É a tua mente...". E ri...uma gargalhada angustiante que ecoa em todas as ruas azuis. As gargalhadas multiplicam-se e todos os teus "tu's" riem ainda mais alto. Eu começo a rir também, um riso louco, os olhos quase a saltar das órbitas...deixo-me cair no chão, a rir, a rir...rebolo pelo chão...Todos os outros se calam e observam-me em silêncio.Levanto-me. Apanho o chapéu e sacudo-me.Coloco o chapéu, de modo que nao se veja o meu rosto. Acendo um cigarro e rumo às ruas azuis, desaparecendo na tua multidão,cedendo à minha loucura...

10/19/2006

Eu corro, corro, corro...

Eu corro, corro, corro...

Corro até não poder mais...
Até me doerem as pernas,
Até nao conseguir controlar as golfadas de ar
Que entram e saem a uma velocidade violenta,
Até cair inconsciente no chão...

Quando recupero os sentidos,olho à minha volta
E vejo que não cheguei a lado nenhum.

Levanto-me...e recomeço a correr...

10/17/2006

Tenho duas identidades...

Tenho duas identidades...
Sou um Deus Nocturno e um Escravo Diurno.

Sou Deus quando o Sol se põe.
Casei com a Lua, que pariu as estrelas,
Sou senhor das trevas e dos seus seres:
Os Poetas, as Putas e os Bêbedos.

Ao nascer do Sol sou escravo.
Sirvo as nuvens brancas e os raios ultra-violeta,
Sou escravo da luz e dos seus seres:
Os engravatados, as varinas e os mentirosos.

Desejo a minha carta de alforria,
O descanso do preto manhoso,
Pois alguém disse um dia:
"É preferível reinar no Inferno a servir no Paraíso"...

10/12/2006

Pesadelo

Teus olhos brilhantes como carvão
Amedrontam meus sonhos
Outrora belos...

O Quadro Perfeito

O Fumo que sai da tua Boca
O Erotismo proveniente da tua Pele
As tuas Mãos finas e delicadas
Os teus Movimentos esvoaçantes
Haverá quadro mais poderoso e belo?

Sonho Molhado

Na minha mais tenebrosa luxúria
Desejo teu corpo.
Não permito que pertenças a outro alguém.
Penetro-te...meus dentes rasgam a tua carne
Nos meus sonhos mais obscuros...

Atiro-te contra a parede e possuo-te...
És minha e se eu quiser posso arrancar-te a alma,
Parti-la em duas, espancar-te até à morte, cortar-te em pedaços minúsculos
E saciar a minha sede.

Ah, como me provocas..
Voluptuosa, ordinária, cabra...
Moves-te balançando todo o teu corpo
Acordando o Monstro que há em mim...

Não te amo...Não!
Quero-te....
Quero matar-te!
Simplesmente porque hoje acordei e apeteceu-me destruir algo belo...

10/11/2006

Julgamento

Se pensas que me fui embora, olha pela tua janela...
Reconhecerás a minha silhueta...a ponta do cigarro,
O meu chapéu negro que me cobre o cabelo sujo e despenteado,
O meu casaco roto nos cotovelos, o meu ar cansado e decadente.

Todas as noites deambulo nas Trevas
Buscando a tua alma para a acompanhar ao Inferno...

Alimento-me de álcool e estrelas
E fodo meninas de 16 anos imaginando as tuas coxas.

Oh, invoco todos os deuses pagães para os julgar
No tribunal da dor.
Que mal vos fiz eu? Que pecados cometi
Para que me condenassem a tamanho infortunio...
Culpados! Culpados! Culpados!
Que tirem o Sexo a Afrodite, a Guerra a Ares, a Água a Posidão...!
Que Hades governe e que as chamas engulam o Olimpo!

Já febril, volto a mim,
Um vagabundo, um pobre coitado
Que dorme no vão das tuas escadas.
Que se afoga em lágrimas e na própria merda.

10/10/2006

Poeta Vagabundo

Assim que a madrugada me bate à porta
Visto o meu casaco e coloco o meu chapéu negro.
Deambulo pela cidade escura e podre.
O cheiro a decadência, putas e erva
Em cada canto, fazem-me sentir em casa.
Conheço esta esquina e a outra,
Conheço as casas e as sarjetas,
Conheço o rio e conheço a lua.
Sou um pobre poeta vagabundo que se alimenta de palavras
E se banha no luar.
Não percebo das cousas das artes,
Limito-me a cuspir o que me vai na alma.
Sei a verdade, e sou feliz...