Poeta Vagabundo

1/26/2007

Um café em Lisboa

Um café em Lisboa. As chávenas tilintam ao bater nos pires. Pessoas conversam, jovens trocam impressões sobre o último exame na faculdade. Há um piano, mas ninguém toca. As empregadas levantam as mesas e arrumam as cadeiras à medida que os clientes se vão embora. Talvez venham mais, pensam. E vêm, vêm sempre mais ocupar as cadeiras agora vazias. Quantas pessoas se sentarão na mesma mesa por dia? Agora uma varre o chão, outra passa pela sala e o toc toc dos seus saltos enche o espaço. As brasileiras conversam naquele português irritante, com os r’s esquisitos. Um político fala na televisão. Mais demagogia que as pessoas esperançosas ouvem e julgam acreditar. A mulher dos saltos altos volta...ou será outra? Sei lá, são todas iguais!! Alguém pede uma bola. Mas que raio? Uma bola? O meu cigarro acabou, tenho de ir apanhar o comboio, vou-me embora...

12/16/2006

Vozes

I
Estou cansado
E não consigo dormir
Assim que deito a cabeça na almofada
Logo os Monstros começo a ouvir.
Vozes do Passado...
Vozes do Futuro...
E tu? Quem és?
II
Vozes do Passado e
Vozes do Presente
Assombram meus sonhos,
Violam-me noite adentro,
Comem-me pedaços do cérebro,
Arrancam-me os intestinos e
O Contrabaixo soa lá bem no fundo...

12/04/2006

A Noite

A Noite nasceu antes do Dia.
A Noite nasceu antes do Tempo.
O Dia é filho da Noite.
A Noite nasceu com a Terra e o Amor...
Morava no Tártaro e era vizinha de
Hades e Perséfone.
A Noite é uma mulher....e é Eterna.

11/19/2006

Atacadores

Ia eu na rua quando me disseram:
Hey, tem o atacador desatado...
E eu respondi
Eu sei...
Entao..porque nao o ata?
Porque haveria de o atar? É um simples atacador...
Porque pode cair!
Minha senhora, eu ja caí há muito muito tempo.
....mas...pode magoar-se!
A senhora tambem se pode magoar.e nem sequer tem atacadores por atar...

11/12/2006

Gato Preto

Ali jaz teu corpo nu, impune.
Volúpia toma conta de mim
Num esgar absurdo de extase,
Prazer dilacerado em forma de S...

Um gato preto, luz vermelha,
Chá verde, caneta branca.
Ah! quero morrer num orgasmo vazio...!
Um orgasmo morto, um suicídio prepotente,

Vens a mim, cadáver negro,
Andante, eclesiástico.
Morre outra vez, ursa asquerosa,
Desaparece!

Nao quero me toques! Quero que explodas!
Implode, desfaz-te em mil,
Oh puta vadia!


Ao Tiago, ao Sérgio e ao David...

10/25/2006

Autocarro da Insanidade

Vou de viagem no autocarro da Insanidade rumo a qualquer lugar que já nao me lembro bem onde fica.Levo a cabeça encostada ao vidro e o chapéu no colo.
O autocarro pára e eu saio bem devagar.Nao reconheço o lugar...é um mundo azul e a tua cara está em toda a parte.A cara das pessoas que deambulam pelas ruas..és...és tu! Ponho as mãos nos bolsos - faz frio aqui - e pergunto ao motorista que lugar é aquele...Ele, que usava um chapéu idêntico ao meu e cuja cara eu nao conseguia ver na escuridão, levanta a cabeça...reconheço-lhe a face...sou eu! "É a tua mente...". E ri...uma gargalhada angustiante que ecoa em todas as ruas azuis. As gargalhadas multiplicam-se e todos os teus "tu's" riem ainda mais alto. Eu começo a rir também, um riso louco, os olhos quase a saltar das órbitas...deixo-me cair no chão, a rir, a rir...rebolo pelo chão...Todos os outros se calam e observam-me em silêncio.Levanto-me. Apanho o chapéu e sacudo-me.Coloco o chapéu, de modo que nao se veja o meu rosto. Acendo um cigarro e rumo às ruas azuis, desaparecendo na tua multidão,cedendo à minha loucura...

10/19/2006

Eu corro, corro, corro...

Eu corro, corro, corro...

Corro até não poder mais...
Até me doerem as pernas,
Até nao conseguir controlar as golfadas de ar
Que entram e saem a uma velocidade violenta,
Até cair inconsciente no chão...

Quando recupero os sentidos,olho à minha volta
E vejo que não cheguei a lado nenhum.

Levanto-me...e recomeço a correr...